A Sociedade Instrução e Beneficência José Estêvão, uma agremiação particularmente vocacionada para «a protecção à infância desvalida», foi criada em 1908, sobre os alicerces do Centro Democrático Escolar José Estêvão, conhecido previamente como Centro Republicano José Estêvão. Os seus fundadores pretendiam homenagear a memória do reputado tribuno José Estêvão Coelho de Magalhães (que, na realidade, nunca fora republicano) cujo centenário de nascimento se começava então a comemorar. Nascido em Aveiro, a 26 de Dezembro de 1809, José Estêvão, como era popularmente conhecido, fora um notável jornalista, político e orador parlamentar português, tendo sido durante o período de 1836 a 1862, ano em que morreu, a figura principal da oposição de esquerda na Câmara dos Deputados. Quando jovem quis entrar para o Seminário e tornar-se sacerdote mas o pai, profundamente anti-clerical, conseguiu dissuadi-lo prodigalizando-lhe uma confortável vida em Coimbra onde iniciou estudos de Direito. Nos últimos anos de vida, José Estêvão envolveu-se na fundação de várias obras de solidariedade social, como o Asilo de São João, em Lisboa, e um outro, igualmente para «a infância desvalida», em Aveiro. Com tal actividade pretendia demonstrar que a filantropia da maçonaria, de cuja Confederação era grão-mestre, podia ser tão activa e operante como a caridade resultante da acção social da Igreja Católica.
Os fundadores da Sociedade, de onde se destacava o benemérito José Maria do Espírito Santo e Silva, propunham-se contribuir para a melhoria das condições sociais das crianças das famílias mais carenciadas da zona do Lumiar. E decidiram centrar a sua intervenção na disponibilização de uma cantina escolar, um balneário e um centro de instrução primária. A 18 de Setembro de 1911, por escritura pública, Manuel Sá Pimentel Leão e sua mulher, cederam uma parcela de terreno da sua Quintinha da Lameda, no Lumiar, à Sociedade, então presidida por Ernesto Pena Monteiro, para que lá fossem construídas instalações apropriadas para o fim pretendido. Depois da construção do edifício sede, a Câmara Municipal de Lisboa, a fim de apoiar o funcionamento das actividades subsidiárias da Sociedade, decidiu chamar a si a responsabilidade pela instrução primária e alugou os dois andares superiores para lá instalar a Escola nº 31 (masculina) e a nº 32 (feminina).
Durante todo o século XX, a Sociedade Instrução e Beneficência José Estêvão desenvolveu um trabalho incontornável no apoio aos mais jovens e carenciados das periferias do Lumiar. Já no decorrer do presente século, em 2002, a Direcção da Sociedade promoveu uma remodelação dos Estatutos, tendo os sócios aprovado igualmente a simplificação da sua designação para Associação José Estêvão (AJE). Mas a erosão do tempo não perdoava e com a alteração demográfica e social da zona de influência, o envelhecimento natural do núcleo de sócios mais activos e contribuintes e a crescente deterioração das instalações acabaram por suscitar um sem número de problemas ao funcionamento da Associação. Em Setembro de 2010, pela manifesta degradação do vetusto edifício-sede, a Direcção viu-se obrigada a encerrar a creche.
Mas o camartelo do tempo não parou por isso e a ameaça de desabamento levou a que a Câmara Municipal de Lisboa lançasse um ultimato de demolição. Perante as dificuldades operacionais, procurando criar sinergias, um grupo de sócios decidiu solicitar apoio à Paróquia de Nossa Senhora do Carmo do Alto do Lumiar, esperançados em revitalizar a actividade da AJE com o alargamento da sua base de apoio e a eventual aproximação de gerações mais novas. E assim veio a acontecer; com uma remoçada Direcção, presidida por Mafalda Aleixo Ferreira, a AJE viu-se, no entanto, confrontada com a necessidade de não só dar execução às exigências da edilidade mas também tentar obter novas instalações para o relançamento da sua actividade. Depois de um processo de pesquisa, altamente condicionado pela crise sistémica do imobiliário iniciada no Verão de 2007, foi possível concretizar uma permuta de espaços com um construtor. Esta operação de sucesso tornou a Instituição proprietária de instalações moderníssimas, a estrear, e bem localizadas na freguesia do Lumiar, na Rua José Travassos. Pouco depois, teve início a aproximação às estruturas da Segurança Social e da Câmara Municipal mais vocacionadas para as áreas em que a AJE pretendia desenvolver a sua actividade nuclear. No culminar desta azáfama legal e burocrática, visando já o retomar do funcionamento pleno como associação de beneficência, a AJE foi distinguida pelo Estado, em Maio de 2015, com a atribuição do estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).